CRR - Fale um pouco sobre sua formação e aproximação com este tema.
Ana Carolina - Me formei em Psicologia na PUC de Campinas em 1997. No ano de 1998, fiz aprimoramento no Laboratório de Avaliação e Medidas em Psicologia (LAMP), dessa mesma universidade, sob a coordenação da Profa. Dra. Raquel Souza Lobo Guzzo que foi minha orientadora de Mestrado entre 1999 e 2001. Sob a orientação da Profa. Raquel tive a oportunidade de trabalhar em escolas da periferia de Campinas e região e desenvolver diversas pesquisas na área da Psicologia Escolar, sobretudo em temas como prevenção de problemas,manejo de crises e direitos das crianças, sendo este último o tema da minha dissertação de Mestrado.
Entre 2001 e 2003 tive a oportunidade de morar em Paris, França. Lá fiz estágio na UNESCO em uma Seção especializada em programas para crianças em situações difíceis, sob a Coordenação da de uma chefia incrível com quem muito aprendi, entre eles Livia Saldari, Florence Migeon e Alphonse Tay. Na UNESCO trabalhei com temas como crianças em situação de rua, educação de crianças com deficiência e crianças infectadas e afetadas pelo HIV/AIDS.Em Paris, também fui aluna especial na L'Ecole de Hautes Etudes en Sciences Sociales, ligada ao CRBC - Centre de Recherches sur le Bresil Contemporaine, sob a coordenação de Afranio Garcia e também da Sorbonne, onde tive aula de Sociologia e Demografia da Infância com as Professoras Regine Sirota e Catherine Rollet.
De volta ao Brasil, tive a oportunidade de ajudar na implantação do curso de Serviço Social do IMAPES onde fui professora durante quatro anos, de 2005 a 2009. Dentro da Política Nacional de Assistência Social, 2005 foi o ano da NOB (Norma Operacional Básica) que incorporou e aprimorou as conquistas que foram gradativamente alcançadas com as NOBs anteriores da área, dispondo sobre a organização do SUAS - Sistema Único de Assistência Social, conhecida como NOB SUAS. O fato de estar envolvida com a implantação do curso despertou meu interesse sobre este assunto, o qual passei a estudar desde então,l passando a ser a minha área de pesquisa e atuação.
Além disso, de 2008 a 2010, fiz uma pós graduação em Terapia Familiar Sistêmica que iniciei em Sorocaba no Instituto Sistemas Humanos e terminei em Salvador - Bahia no Centro de Estudos da Família e do Casal - CEFAC.
Durante toda a minha formação, a questão da droga sempre aparecia, seja como causa, consequência ou apenas parte das dificuldades enfrentadas pelas crianças, meu principal público de trabalho e pesquisa durante este processo.
Tendo a área social como campo de atuação, tive a oportunidade de trabalhar como técnica e com gestão pública em Campinas, Salvador e Sorocaba e a questão sempre se fazia presente. Infelizmente, entendo que hoje em dia, é praticamente impossível ter qualquer atuação na área social, seja como técnico ou como gestor, sem se deparar com a questão do uso e abuso de drogas. Este é um problema de saúde pública e deve ser enfrentado por todos que atuam na área da saúde, aqui entendida como a definição da Organização Mundial de Saúde - como bem estar físico, mental e social. É portanto, também uma questão da área social.
CRR - No momento, onde trabalha e qual a atuação?
Ana Carolina - Hoje eu trabalho na Vara da Infância e Juventude de Sorocaba, como Psicóloga Judiciária.
CRR - O que pensa sobre a complexidade do tema?
Ana Carolina - Entendo que ele precisa ser visto como um problema de todos. Cada política pública, cada gestor, cada técnico, cada instituição precisa buscar se preparar para o enfrentamento desta questão e para cuidar das pessoas que nela e por ela estão envolvidas. É preciso entender que esta é uma questão que precisa ser tratada com integralidade e portanto é alvo de diversas políticas públicas, entre elas a saúde, a assistência social, a segurança pública, a educação, o trabalho, a habitação, enfim, todas as áreas que tem como objetivo final a promoção do bem estar físico, mental e social da população do nosso país.
CRR - Qual o objetivo da sua palestra?
Ana Carolina - Na aula que eu dei no CRR falei sobre os sistemas únicos de Saúde e de Assistência Social, os quais são parte importante desta rede de cuidado. Entendo que o objetivo desta fala é colocar os cursantes a par do funcionamento destes sistemas para que possam acessá-los sempre que necessário no dia a dia de trabalho deles e, também, conscientizá-los de que um importante pilar do SUS e do SUAS é a participação popular o que compromete cada um de nós cidadãos no seu funcionamento e na sua constante melhora e aproximação com as necessidades de cada local.
Também acho que é um momento importante de refletirmos que uma política só não será capaz de um grande feito nessa área, é preciso que estejamos integrados e que tenhamos respeitos quanto à atuação de cada um dos nossos parceiros.
CRR - O que pensa sobre os cursos do CRR?
Ana Carolina - Pra mim é um grande prazer fazer parte desta equipe. Gosto da visão que o CRR tem sobre a questão e também da metodologia que utiliza a qual valoriza os conhecimentos e as vivências de cada um que chega para aprender e acaba também ensinando. São encontros muito ricos e que vem gerando frutos por aí. Atuando como Psicóloga Judiciária já pude mais de uma vez encontrar com alunos e ex-alunos do CRR em trabalhos em rede e fico muito satisfeita de ver que a oportunidade de troca que o CRR possibilita vem surtindo efeitos concretos no trabalho da rede.
